Os Pilares do Tratamento de Recuperação

Todos nós sabemos que existem diferentes caminhos para parar de usar drogas, mas o dependente químico que decide cessar o uso de substâncias sabe que não basta estar limpo, tem que entrar em recuperação. E é justamente isso que Marcelo Ribeiro, médico psiquiatra e diretor técnico do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas explica em sua reflexão sobre os quatro pilares do tratamento bem-sucedido e a família. “Os caminhos que levam à recuperação são diversificados: alguns alcançam a abstinência estável e os ganhos dela advindos – retorno à vida profissional, credibilidade familiar e autoconfiança – a partir de longas internações ou de cuidados pautados por médicos ou psicólogos, enquanto outros a encontram a partir de um despertar espiritual, havendo, ainda, aqueles que se recuperam dentro de grupos de mutua ajuda, como o Amor-Exigente, AA e N.A”. “Na verdade, experiências bem-sucedidas são sempre uma combinação desses três, em inúmeras proporções, o que torna o processo de recuperação uma experiência única”, afirma o especialista.

Nos dias de hoje, diz ele, independentemente dos caminhos escolhidos, estudos mostram que há quatro componentes que não podem estar ausentes ao longo dessa jornada, sob pena de a mesma fracassar. Confira:

O primeiro deles é o chamado monitoramento. “Regras aumentam a força e a assertividade do usuário em dizer não para as situações de risco. Desse modo, necessitam de um contrato de tratamento, pautado por regras, com consequências caso não esteja conseguindo cumpri-las”. “Assim, ele passa a ter responsabilidade sobre suas recaídas. A família quase sempre é a “fiadora” desse contrato e precisa estar em sintonia com a equipe de tratamento para que o paciente perceba que não há mais espaço para manobras – “me dá mais uma chance” – frente a quebras de contrato”. Saber que há regras acima de todos é estruturante para ele”, explica o psiquiatra.

Já o segundo componente são as atividades que preenchem o tempo antes dedicado ao consumo de drogas. “Isso pode desde a estruturação de ações focais, até a reconstrução de uma semana completa, para aqueles que perderam o contato com tudo e com todos. Atividades esportivas e religiosas, cursos, hobbys, entre outros, compõe esse tópico”, ensina o médico.

As pessoas e os ambientes de não-uso, com os quais o usuário pode até partilhar suas dificuldades podem fomentar vínculos e formar uma rede de monitoramento, dedicada à construção da reinserção social do usuário. Os grupos de mútua-ajuda se encaixam aqui.

E, por fim, Marcelo relata o manejo do estresse considerando que os ímpetos de raiva e as sobrecargas emocionais estão na base da recaída. “É preciso saber lidar com isso, inicialmente evitando, em seguida aprendendo a se aliar a parceiros – por exemplo a família – na resolução de conflitos e, por fim, enfrentando-os assertivamente”. Trata-se, segundo Ribeiro, de “um processo-da-vida-toda, cuja resultante é chamada amadurecimento”. “Os caminhos até a recuperação são únicos, cheios de curvas e acidentes geográficos, o que tornam as recaídas prováveis”, reconhece o diretor do CRATOD.

Porém, a experiência dos adictos em recuperação nos mostra que, mesmo nesse contexto de tensão permanente, componentes como a frequência em reuniões, nos mostra que aumentam as chances de um desfecho positivo são sempre bem-vindos. “Mas não se esqueça: os quatro pilares precisam estar sempre juntos”.

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